Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
De Na Vertigem do Dia (1975-1980)
FERREIRA GULLAR
Um comentário:
Parece com você e com todo ser humano normal. Claro que nem todo mundo se vê assim. E é isso que diferencia.
Bem-aventurados os que se sabem incompletos, mutáveis, inquietos,confusos... porque se são capazes de realizar grandes coisas em sua vida.
Que assim sejamos nós!
Beijos.
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